“Percebi que o mercado de trabalho na área da Geografia e Planeamento, em Lisboa, era escasso e a oferta estava, de alguma forma, estagnada para a procura que existia.”

Terminou a licenciatura em Geografia e Planeamento Regional, na NOVA FCSH, em 2013, e prosseguiu estudos no Mestrado de Gestão do Território – Planeamento e Ordenamento do Território, na mesma instituição. Bruno Janeco, depois de muita procura, decidiu mudar o foco da sua atenção. Um testemunho que mostra que às vezes é necessário mudar de estratégia, aquando da procura de emprego!

Após teres concluído os estudos, não conseguiste encontrar de imediato trabalho na área. Começaste por procurar na Área Metropolitana de Lisboa, mas depressa mudaste o foco das tuas atenções, acabando por conseguir um estágio pelo IEFP, numa empresa de consultadoria e planeamento que presta serviços para diversas entidades e autarquias, na qual se inclui o município de Monforte. O que te levou a mudar de estratégia? Não tiveste “receio” de perderes certas oportunidades por não estares no “centro do turbilhão”?

R: Quando terminei os estudos, sabia perfeitamente das dificuldades que iria encontrar na procura de trabalho na área, porque as oportunidades à partida iriam ser escassas, sobretudo numa área como a geografia. Inicialmente, procurei emprego na Área Metropolitana de Lisboa, sobretudo em empresas ligadas ao planeamento e também em algumas autarquias locais, às quais algumas vezes concorri a concursos públicos. Os principais problemas com que na altura me deparava eram sobretudo relacionados com a falta de oportunidades e a minha falta de experiência profissional. No entanto, tinha de começar por algum lado e, por isso, comecei a trabalhar na empresa CTT Expresso como operador de armazém, a fazer receção e expedição de mercadorias – numa área completamente diferente. Enquanto aqui trabalhava, nunca desisti ou virei a cara à luta, e andei sempre numa procura constante de trabalho na área. Mais tarde, quando estava quase a terminar o meu vínculo contratual nos CTT, depressa mudei de estratégia, e comecei a procurar oportunidades no interior do país, nomeadamente no Alentejo, onde possuo uma segunda residência no concelho de Monforte. Finalmente consegui a oportunidade de frequentar um estágio profissional remunerado através do IEFP, numa empresa de consultadoria e planeamento que presta serviços a diversas entidades e autarquias, nas quais se inclui o Município de Monforte. Na altura, mudei de estratégia porque percebi que o mercado de trabalho na área da geografia e planeamento em Lisboa era escasso e a oferta estava, de alguma forma, estagnada para a procura que existia. E até hoje não me arrependo de ir viver sozinho e de me ter mudado de “malas e bagagens” para um território com uma realidade completamente diferente da que encontrava em Lisboa. Talvez a adaptação tenha sido fácil porque já tinha residido grande parte da minha vida num outro concelho do Alentejo, em Elvas. E não, não tive receio de perder outras oportunidades por não estar a viver num grande centro urbano como é o caso de Lisboa, até porque defendo a ideia de que as oportunidades em determinadas áreas profissionais, tal como a nossa, vão surgindo com alguma frequência em territórios do interior e de baixa densidade, devido ao facto de existir uma certa escassez de recursos humanos técnicos especializados. Posso dar alguns exemplos – em determinadas áreas profissionais, em Lisboa ou em outros grandes centros urbanos, existem três ou quatro vagas e aparecem dezenas de candidatos; enquanto que no interior podem aparecer duas ou três vagas e nem sempre são preenchidas. Outra das grandes vantagens de que me apercebi, também, quando me mudei para o interior do país, foi a melhoria da qualidade de vida, mais elevada do que aquela que encontrava em Lisboa. 

Desde o início do teu percurso profissional na área, já fizeste várias coisas, desde a definição e elaboração de áreas de reabilitação urbana e operações de reabilitação urbana para centros históricos, definição de prioridades de intervenção urbanística e operações urbanísticas. Neste momento, integras a equipa técnica responsável pela revisão do PDM da Câmara Municipal de Monforte. De que forma é que consideras que as ferramentas e os conhecimentos que adquiriste ao longo da licenciatura e do mestrado se materializaram – e foram essenciais – no mercado de trabalho, no teu caso, tendo em conta a tua experiência?

R: Neste momento, já tenho quase dois anos e meio de experiência profissional na área; a reabilitação urbana tem, sobretudo, assumido grande parte do meu trabalho, quer para o município de Monforte, como para o município de Fronteira. Os trabalhos e funções que tenho desenvolvido têm vindo a ser muito enriquecedores para o meu crescimento – tanto profissional como pessoal – e têm demonstrado ser desafios constantes, e para os quais é necessário um grande sentido de responsabilidade. São trabalhos para autarquias, onde tudo é analisado ao pormenor, debatido e proposto por diversos profissionais das mais diversas áreas, desde a política, engenharia, arquitetura, sociologia, entre outras áreas sociais, ou seja tem sido um trabalho em que estou em constante aprendizagem e tem sido muito bom trabalhar em equipas técnicas multidisciplinares. E o facto de atualmente estar integrado na equipa técnica responsável pela revisão do PDM do Município de Monforte tem permitido tudo isso. Em relação aos conhecimentos adquiridos, tanto na licenciatura como no mestrado, considero que foram as bases teóricas para desempenhar as funções que atualmente desempenho, mas temos de ter em conta que estas não são suficientes. Isto porque, na prática, os conceitos, as regras e todo o quadro legislativo em termos de urbanismo e planeamento territorial têm vindo a sofrer algumas alterações ao longo do tempo, pelo que enquanto profissionais na área devemos estar sempre a analisar e a interpretar a legislação, para nos mantermos atualizados. As ferramentas adquiridas que considero mais relevantes foram todas as metodologias aplicadas ao nível do planeamento territorial, e sobretudo os SIG que se têm revelado determinantes em grande parte do trabalho executado. 

Quais são as tuas perspetivas relativamente ao futuro? Que oportunidades e desafios gostarias que surgissem e que portas gostarias de ver abertas?

R: Neste momento, o meu principal objetivo é continuar a ganhar o máximo de experiência profissional e adquirir as competências necessárias para continuar a trabalhar na área do planeamento territorial. As minhas perspetivas futuras são continuar a trabalhar na área para a qual estudei e fiz a minha formação profissional. Todos os dias trabalho e luto por aquilo em que acredito, e luto para que a geografia e o planeamento tenham uma maior importância no mercado de trabalho, apesar de muitas vezes estas áreas serem desvalorizadas, ultrapassadas ou confundidas por outras áreas sociais – daí isso também por vezes se refletir na oferta de trabalho e nas oportunidades. Pretendo que continuem a surgir oportunidades e desafios profissionais. Ambiciono, um dia, trabalhar numa câmara municipal e ter alguma estabilidade profissional; todos sabemos que nestas áreas os empregos são, por vezes, precários e pontuais. 

“Pergunta da praxe”: o que dirias a um finalista de Geografia e Planeamento Regional? Qual o teu conselho mais sincero?

R: O que posso dizer a um finalista de Geografia e Planeamento Regional é que continue a estudar na área para a qual investiram. E lutem por aquilo em que acreditam. A licenciatura apenas é a base da tua formação, pelo que é importante continuar a aprendizagem ao longo da vida. Quanto mais competências adquirires, mais vantagens possuis para conseguires as oportunidades que tanto ambicionas, e melhor será a tua integração no mercado de trabalho. E se realmente queres trabalhar na área após terminares os estudos, e se as oportunidades de trabalho não forem imediatas, o conselho mais sincero que te posso dar é para que não desanimes e não desistas logo no início da procura de trabalho; estes não surgem logo no momento. Não tem mal nenhum começar a trabalhar em áreas diferentes, uma vez que temos que começar por algum lado e ter alguma independência financeira faz sempre falta. O importante é que continues de forma constante a tua procura, tenta sempre estar atualizado sobre o lançamento dos programas de estágios profissionais, sejam eles do IEFP ou do PEPAL, tendo em conta que os estágios profissionais podem ser considerados a porta de entrada no mercado de trabalho e te permitem ganhar alguma experiência profissional. Para além disto, não te limites à procura de emprego na tua zona de residência! Alarga os teus horizontes e arrisca! Não tenhas medo ou receio de arriscar, porque, muitas vezes, as oportunidades estão onde menos se espera!

Questões: Ana Mendes

Respostas: Bruno Janeco

Foto: Bruno Janeco