“Podemos ter imensos diplomas pendurados na parede, mas eles não contam para nada se, no fim do dia, não fizermos a diferença na vida das pessoas”

Tem 42 anos e nasceu no Barreiro. Possui um vasto currículo académico, tendo-se licenciado em Comunicação Social e Cultural, na Universidade Católica Portuguesa. Tem também duas pós-graduações em Gestão de Recursos Humanos (ISCTE) e em Negócios Sustentáveis (University of Cambridge). Conta também com várias especializações em universidades reconhecidas mundialmente ( Oxford University, Harvard Law School, Northwestern University e também no MIT  [Massachussets Institute of Technology]. Tem como paixões a leitura e a escrita, tendo lançado, ao longo da última década, livros e artigos que abordam temas como negócios, empreendorismo e gestão. Desde sempre que é fã de basquetebol, desporto este que o ajudou a pagar os estudos, enquanto treinador. Desde 2017 que desempenha o cargo de Presidente da Câmara Municipal do Barreiro, cidade esta, que diz ser uma das suas maiores paixões.

(GL) Nascido e criado na cidade, o que acha que mudou no Barreiro da sua infância para o Barreiro atual?

(FR – CM Barreiro) Sem dúvida que a despoluição que o Barreiro teve, ao longo de tantos anos, foi uma das maiores transformações que aconteceram no nosso município, principalmente porque o ar tornou-se muito mais limpo e respirável. Contudo, para além de todas as coisas boas que a desindustrialização veio a trazer, por um lado, trouxe também, numa fase inicial, desemprego a muitos barreirenses que tinham o parque industrial como a sua forma de sustento. Toda esta despoluição, teve também um lado muito bom. Ao longo dos tempos conseguiu-se (não com a velocidade que era desejável) retirar toda a carga negativa que estava, de certa forma, conotada ao Barreiro. Um Barreiro cinzento, um Barreiro pesado e poluído. A grande diferença que eu noto, de forma genérica, na nossa cidade passa muito por isso. Apesar da poluição já não ser uma realidade, as pessoas ainda têm essa ideia muito presente. Outros aspetos que também gostaria de realçar e que realmente mudaram muito ao longo dos últimos anos é a higiene urbana e as zonas que se encontravam altamente degradadas, que é sem dúvida um assunto extremamente complexo numa cidade densamente povoada como o Barreiro. Porém, sem dúvida, se olharmos para o Barreiro de há 20 anos, denota-se claramente um trajeto gradual que se está a traçar no sentido de melhorar estes aspetos e, no fundo, atingir o único objetivo, o qual se prende com a melhoria da qualidade de vida das pessoas. 

Há 4 anos, quando chegou à presidência da Câmara Municipal do Barreiro, quais foram os principais desafios com que o Frederico e a sua equipa se depararam? 

Só quando iniciámos funções dentro da câmara é que nos deparámos com a realidade. Mas é facto que, sem dúvida, íamos muito bem preparados para aquilo que íamos enfrentar. Encontrámos uma câmara que, administrativamente, ficou estagnada no século XVIII. Tudo era baseado em papel. Sempre que solicitássemos um documento para consulta, poderia ser um processo que demoraria horas ou até metade de um dia de trabalho, tornando-se até um entrave às tomadas de decisão e ao ritmo que queríamos adotar. Portanto, o primeiro passo que demos quando aqui chegámos foi desmaterializar e materializar novamente toda a câmara, até porque, hoje, eu consigo, através do meu telemóvel pessoal, colocar o número do documento e ter acesso ao mesmo, numa questão de segundos. Em menos de nada conseguimos ter uma câmara materializada numa espécie de ‘’espaço digital’’ que nos permite ter acesso a todos os processos que pretendemos consultar, nomeadamente, processos de urbanismo. A título de exemplo: hoje, uma pessoa na China pode colocar um processo de urbanismo online na Câmara Municipal do Barreiro, tudo em questão de segundos. Foi também graças a essa renovação que não permanecemos estagnados durante o tempo de pandemia, todo este ambiente digitalizado permitiu dedicarmo-nos ao município a partir de qualquer lado. No fundo, conseguimos tomar decisões em cinco minutos, as quais, noutros tempos, demorariam uma semana. O contacto com potenciais investidores que queiram investir no Barreiro é feito a uma velocidade supersónica que nos permite avaliar e responder a estes interesses em pouquíssimo tempo. A ideia que existe (ou existia) de estarmos sempre em reflexão ou a estudar sobre assuntos do município é sempre a desculpa perfeita para deixar o tempo passar e não fazer nada, e eu confesso que não tenho jeito nenhum para ficar de braços cruzados. É muito fácil dizer que ‘’estamos a pensar no assunto’’ ou ‘’ estamos a ver a melhor forma para resolver ‘’ enquanto deixamos os anos passar. 

Sem dúvida que este mandato ficou marcado pela intervenção em áreas degradadas (como foi o caso da venda da Braamcamp, para posterior reabilitação), pelas boas práticas de urbanismo e pelo elevado investimento no espaço público. Caso se repita um novo mandato, após 4 anos, ainda sente uma certa necessidade de utilização das mesmas estratégias de planeamento e urbanismo? No fundo, o que é que ainda há por fazer, no Barreiro? 

Temos um plano de verbas do P.R.R (Plano de Recuperação e Resiliência) muito bem delineado e preparado para a eventualidade de um segundo mandato. Diria que temos de persistir na renovação do espaço público, pois o Barreiro tem ainda muito espaço por recuperar. Urge ter mais passeios, melhor mobilidade e sobretudo criar novas centralidades na cidade, tornar algo de que as pessoas não usufruíam, numa coisa útil para o seu dia a dia. Existe ainda muito terreno no Barreiro que requer esta atenção. Nas questões da mobilidade, existem ainda alguns ‘’nós’’ que temos de desfazer, isto porque, existem imensos troços na via pública que ocupam imenso tempo às pessoas, como é o caso da imensidão de semáforos. O nosso objetivo relativamente a esta questão será, sem dúvida, dar mais tempo às pessoas, isto é, conseguir com que as pessoas se coloquem no outro lado da cidade em muito menos tempo. Acrescento ainda que, o verdadeiro tema/objetivo do próximo mandato é o acesso à habitação, nomeadamente, habitação a custos controlados. Esta medida é de uma enorme importância para os jovens que estão à procura da sua primeira casa, para que, de alguma forma, consigamos contê-los, no sentido de conseguirem, primeiro que tudo, uma oferta justa de habitação no seu próprio concelho. A ‘’cereja no topo do bolo’’ do segundo mandato passaria também por dar músculo sobre a forma de investimento na recuperação da zona histórica do Barreiro. 

De que forma acha que os jovens, habitualmente tidos como desinteressados pelos assuntos políticos, poderão desempenhar um papel importante no pensamento e desenvolvimento do município? 

Na minha juventude, eu detestava ouvir os mais velhos dizerem: ‘’Jovens! Vocês são o futuro!’’. O futuro é sempre a desculpa perfeita para não fazer nada, porque fica sempre tudo para o amanhã. Primeiramente, é necessário tratar os jovens, não como jovens, mas como iguais, fazê-los sentir que eles são importantes enquanto cidadãos, o que também é válido para um idoso de setenta anos. Todos fazemos parte disto! Cada vez mais é importante perceber que a democracia não é um dado adquirido e cabe tanto aos jovens como a outras faixas etárias entender que há sempre dois caminhos a tomar: o caminho de ‘’ não querer saber, o último que feche a porta ‘’ ou o caminho de tentar perceber ‘’mas afinal, como funciona isto da democracia ? O que é que faz uma câmara municipal? O que é que faz uma junta de freguesia? Qual é a importância destes órgãos executivos? ‘’. É necessário demonstrar que, enquanto cidadãos, é obrigação fazermos a diferença. Numa era de grande digitalização, urge cada vez mais a necessidade de dar a entender aos jovens que as suas ideias e os seus inputs têm marca quando abordamos futuros projetos para o concelho. 

Se tivesse que nomear uma personalidade como a sua fonte de inspiração, quem seria?

Não tenho ídolos. Tenho apenas algumas pessoas que admiro e que gosto de certos aspetos das suas vidas. Como fui treinador de basquetebol durante muitos anos, nutro um sentimento especial pelo falecido Kobe Bryant. Porquê o Kobe? Bem, porque era uma pessoa extremamente focada naquilo que fazia. Eu, tendo vindo de uma família humilde ficou-me também, para sempre, marcada uma frase dita pelo meu avô: ‘’ Nós quando nos propomos a fazer algo, e somos honestos, é meio caminho andado, porém não chega, se queres mesmo algo tens correr atrás. Nunca conseguirás sozinho e é essencial que todos à tua volta te ajudem a atingir os teus objetivos. ‘’ A minha maior inspiração é que as pessoas que gostam de mim, independentemente se correr bem ou mal, tenham orgulho naquilo que eu faço. 

Que mensagem gostaria de deixar a todos os estudantes da comunidade académica que estão a iniciar agora o seu percurso?

O percurso académico não esgota com a licenciatura, nem com o mestrado. É um percurso que dura para a vida toda. Nunca se esqueçam que o estudo é importante, nunca se esqueçam que a prática é importante, mas sobretudo, nunca se esqueçam que os dois só existem se no fim do dia conseguirmos fazer o mais difícil, que é a diferença na vida das pessoas. Caso contrário, seremos apenas indivíduos com uns quantos diplomas expostos na parede. Nunca deixem de ser ambiciosos! Ser ambicioso é muito bom e atingir o que se pretende, ainda melhor!

Entrevista: Frederico Ferreirinho

Respostas: Frederico Rosa, Presidente CM Barreiro

Foto: Frederico Rosa, Presidente CM Barreiro