Opinião – A geografia pandémica

A pandemia da COVID-19 será um dos principais desafios no que ao futuro da Europa diz respeito. Este torna-se fulcral num quadro de maior frequência deste tipo de fenómenos e no contínuo envelhecimento da população europeia. Além destes, esta pandemia veio demonstrar uma alteração na forma como cada um de nós se relaciona com a sociedade. 

Torna-se determinante perceber alguns aspetos geográficos que poderão demonstrar alguma relação com a pandemia e como esta se alastrou pelo mundo. Um primeiro aspeto passou pela deslocação e a mobilidade constante que aconteceu entre os vários países, com reuniões presenciais num único local ou as denominadas feiras de eventos para a exposição de produtos. Estas acabavam por concentrar pessoas dos vários pontos do globo em espaços pequenos e fechados sem qualquer tipo de higienização do espaço. 

Numa ótica de concentração populacional, outro aspeto importante do ponto de vista geográfico prende-se com a densidade populacional dos territórios. Se atendermos ao caso português, a Região Norte e a Área Metropolitana de Lisboa são as duas regiões mais populosas de Portugal e por sua vez as que apresentam a maior concentração de casos ativos. Estas regiões acabam por ser muito dinâmicas do ponto de vista económico, concentrando empresas e empregos vários, o que acaba por impulsionar mais contactos diretos entre colegas de trabalho, por um lado, e um maior número de contatos nas várias deslocações realizadas por transportes, por outro. 

Além destes, é necessário concentrar atenções no envelhecimento contínuo, não só de Portugal, mas também, do resto da Europa. Os Índice Sintéticos de Fecundidade dos vários países europeus encontram-se a níveis que não garantem a substituição de gerações, a população ativa irá começar a decrescer nos próximos anos e o número de idosos será cada vez maior, sobretudo, os de idades mais avançadas. A COVID-19 expôs a vulnerabilidade das pessoas mais velhas a pandemias e a outras doenças, uma vez que, são mais passíveis de ter condições de saúde subjacentes, e ainda, enalteceu a fragilidade dos sistemas de saúde na tentativa de dar vazão às várias solicitações. Assim, o termo “resiliência” que se utiliza frequentemente em relação às alterações climáticas, terá de ser aplicado também ao setor da saúde, até numa ótica de aumento de doenças crónicas e oncológicas. Assim, a estratégia passará por uma aposta na prevenção, na vigilância e na melhoria do acesso a cuidados de saúde, diagnóstico e tratamento. 

As alterações climáticas poderão ser um dos motores para o aumento da frequência de fenómenos como a COVID-19, assim, a transição energética e a adaptação dos territórios às alterações climáticas terá de ser premente. Esta deverá passar por uma mobilidade mais sustentável e limpa, a produção de energia renovável, a mudança para uma economia circular e o restauro da biodiversidade. As cidades terão um papel determinante promovendo uma mobilidade suave ou valorizando os espaços verdes, espaços esses, essenciais para o bem-estar físico e mental de cada um de nós. 

Assim, além do impacto que o vírus trouxe para a nossa vida, é necessário perceber o que poderá ser feito para que no futuro estas situações sejam menos recorrentes, e enaltecer o papel que cada um de nós e os territórios poderão ter no controlo destes fenómenos. 

Referências Bibliográficas: 

Relatório da comissão ao parlamento europeu, ao conselho, ao comité económico e social europeu e ao comité das regiões sobre o impacto das alterações demográficas. Bruxelas, 17.6.2020, p. 2-37. Disponível em: https://eur-lex.europa.eu/legal-content/PT/TXT/?uri=CELEX%3A52020DC0241 [Consultado em: 23/04/2021].

Texto: João Esquetim