Voluntariado Curricular: uma experiência mais que enriquecedora!

Miguel Leandro, 22 anos, encontra-se neste momento a frequentar o Mestrado de Riscos, Cidades e Ordenamento do Território, na Faculdade de Letras da Universidade do Porto (FLUP). Terminou a licenciatura em Geografia e Planeamento Regional, na NOVA FCSH, no ano passado, e no último semestre decidiu substituir uma das unidades curriculares mais convencionais pela opção do voluntariado curricular.

Em que entidade fizeste o teu voluntariado curricular e em quê que consistiu? Que razões te levaram a escolher esta mesma entidade?

Como estudante do DGPR, tomei conhecimento da oportunidade de realizar voluntariado curricular pelo Professor Pedro Casimiro, que desafia os alunos a apostarem nos projetos e nas oportunidades que a Universidade e a Faculdade nos disponibilizam. Além disso, também tinha colegas do departamento que já tinham tido esta experiência e que me contaram o quão enriquecedora poderia ser.. Tendo 10 anos de escutismo e sendo estudante de Ciências Sociais e Humanas, acho de grande importância que exista uma vertente social no ensino superior, de modo a aprofundar valores cívicos e humanos na vida académica.

Quando o decidi fazer, a minha escolha a nível de instituição já estava feita: a associação C.A.S.A. – Centro de Apoio ao Sem-Abrigo. A minha escolha deve-se ao facto de já ter trabalhado com esta instituição no passado, no âmbito de uma distinção internacional escutista (Scouts of The World Award – Brevet Scouts du Munde). Além disso, tenho uma preocupação pessoal com as condições de vida, alimentares, sociais e de higiene das pessoas em situação de sem-abrigo no nosso país, e neste caso, na cidade de Lisboa. O C.A.S.A. trabalha diariamente com famílias carenciadas, pessoas em situação de sem-abrigo, antigos presidiários e pessoas com diversas deficiências, numa tentativa de melhorar as suas condições de vida e ajudar à inclusão dessas mesmas pessoas na sociedade. A minha passagem nesta instituição teve duas vertentes: apoio na cozinha para confeção de mais de 600 refeições diárias e distribuição com as equipas de rua de kits de jantar.

Com o advento da pandemia, uma das primeiras medidas decretadas prendeu-se com a imposição do ensino à distância. A partir do momento em que isto aconteceu, em que moldes concluíste as restantes horas até ao final do semestre? Que opções é que a faculdade te deu? 

A minha preocupação com a população sem-abrigo da nossa cidade ficou acrescida com a situação pandémica e com a sabida falta de voluntários. Assim, tendo todo o interesse e vontade em ajudar, falei com a Faculdade e mais em particular com o meu orientador (o Professor Pedro Casimiro), sobre esta preocupação e fui incentivado a continuar (assumindo eu toda a responsabilidade pelas medidas de segurança e higiene relacionadas com a pandemia).

“Perspetiva em retrospetiva”: Valeu a pena? Não te arrependes de ter escolhido uma outra UC mais convencional, ao invés de teres optado pelo voluntariado curricular?

Em relação a esta Unidade Curricular de voluntariado, posso afirmar que foi uma das melhores que, até ao momento, realizei na minha vida. Já tinha participado em muitas outras ações de voluntariado e de serviço, dentro e fora do movimento escutista, mas nunca tinha tido oportunidade de realizar um projeto desta forma. Estar numa equipa, pertencer a um grupo de pessoas incríveis, incansáveis e com o coração do tamanho do mundo, foi uma experiência que reforçou ainda mais os meus valores cívicos e sociais. Em relação ao acompanhamento do voluntariado, o apoio do Professor Orientador Pedro Cortesão Casimiro foi essencial, apesar de toda a situação do COVID-19,  mostrou – se sempre disponível, próximo e interessado pelo meu trabalho. Em relação ao coordenador do C.A.S.A., o Dr. André Correia, foi uma pessoa presente, apesar dos seus compromissos e responsabilidades, e felizmente graças à sua equipa – referindo-me em particular ao Chef Henrique e ao Chef Carlos Madeira – estive sempre acompanhado. Aprendi muito com estas duas pessoas, com todos os voluntários com quem partilhei longas horas e, claro, com todas as pessoas que carinhosamente conheci na rua, ouvindo as suas estórias, às vezes lidando com situações complicadas. Depois desta experiência tão positiva, é de coração cheio que já recomendei (e vou continuar a fazê-lo) aos meus colegas de curso.

De que forma consideras que o voluntariado complementou a tua formação académica? 

Sinto que este voluntariado ajudou a criar em mim um sentimento de dever e compromisso para com as pessoas. Foram dias desgastantes, mas sem dúvida recompensadores. Entre a copa do C.A.S.A. e o saltar por cima de comboios para chegar às pessoas mais isoladas, é difícil transformar em palavras a sensação incrível e reconfortante que sentimos. O chegar perto dessas pessoas, oferecer-lhes alimentos que preparamos para eles, os dois dedos de conversa e o receber sorrisos e palavras de agradecimento, é uma sensação inexplicável. Tantas vezes ouvimos: “valeu mais este bocadinho de conversa, do que a comida toda que me trouxeram”, que acabo por questionar se os estamos a ajudar a eles, ou são eles que nos estão a ajudar a nós.

Acredito que a Geografia é uma área mais abrangente do que muitos pensam: não é apenas o estudo do território mas também o estudo da população nele existente e acho que é super importante conhecer realidade que muitas vezes são tão distantes (apesar de estarem mesmo ao nosso lado).

Questões: Ana Mendes

Respostas: Miguel Leandro

Foto: Miguel Barreiros