Mais cidade, menos minutos!

Há pouco tempo começou a ser divulgada um novo modelo de cidade, a denominada “cidade dos 15 minutos”. Esta começou por ser desenvolvida por um Professor da Universidade Sarbonne, de seu nome Carlos Moreno, com o propósito de perceber quais as razões para as populações de uma cidade se deslocarem, e que soluções poderiam ser induzidas para reduzir essas deslocações. 

Este percebeu que grande parte da população perdia cerca de um dia de trabalho apenas no movimento quotidiano de casa-trabalho/trabalho-casa, como também, as cidades encontram-se segmentadas, ou seja, um habitante reside num determinado local, trabalha noutro local, e faz compras perto dos dois.

A primeira conclusão a que chegou prendeu-se com a ideia de que se tudo estivesse à distância de 15 minutos, a pé ou de bicicleta, o ganho em tempo e para a sustentabilidade seria extraordinário – ainda mais importante num quadro de emergência climática e no próprio desafio colocado às cidades do futuro (visto que estas abarcarão 70% da população mundial, em 2050). A porção de população mundial a residir em cidades já ultrapassa os 50%, e o consumo de energia e a emissão de dióxido de carbono rondam os 75% e 80%, respetivamente.

Assim, constitui-se um desafio para o planeamento repensar a forma de desenhar e construir a cidade, por forma, a tornar a mesma mais sustentável, mais inteligente, mais harmoniosa e “mais para as pessoas”. Para que isto seja possível, torna-se inevitável reagir, conjugar os diferentes atores como agentes da mudança e assegurar um futuro que não se irá coadunar com as soluções propostas no passado. Esta ação de mudança passa pelo aumento do espaço público, uma maior aposta nas infraestruturas verdes/mobilidade suave, uma oferta de serviços públicos mais próxima do cliente, a descarbonização e a programação do espaço urbano mais sustentável e com uma redução da pegada ecológica.

É importante referir, em complemento, que o tempo utilizado nos transportes não é necessariamente tempo perdido. No planeamento de transportes é comum utilizar-se o termo “multivalência dos transportes”, isto é, a utilização do tempo de transporte para a realização de outras atividades, como são os casos, de ler, conversar, dormir, ouvir música, jogar no telemóvel ou ver a paisagem – pelo menos, no que diz respeito aos transportes públicos. Na minha visão pessoal, este tipo de atividades acaba por introduzir uma maior harmonia no processo de deslocação entre casa e o local de trabalho/estudo, um momento de descontração e reflexão do dia e promove uma maior perceção da realidade que nos rodeia.

Texto: João Esquetim

Imagem: Economia & Negócios

Referências Bibliográficas:

ALBUQUERQUE, Raquel. Cidades de 15 minutos: o novo modelo urbanismo que várias metrópoles já estão a aplicar. Expresso. 2020. Disponível em:
https://expresso.pt/sociedade/2020-11-15-Cidades-de-15-minutos-o-novo-modelo-de-urbanismo-que-varias-metropoles-ja-estao-a-aplicar.

FERNANDES, Filipe. A cidade dos 15 minutos e o desafio do bem-estar. Jornal de negócios. 2020. Disponível: https://www.jornaldenegocios.pt/sustentabilidade/smart-cities/detalhe/a-cidade-dos-15-minutos-e-o-desafio-do-bem-estar.