O trabalho que hoje aqui apresento é o início de um projeto de investigação e levantamento das Raças Autóctones Portuguesas. Um trabalho que visa a valorização e promoção do Património Genético de Portugal afirmando a diversidade patrimonial com conhecimento, estudo e caracterização.
Assim, o objetivo vai para além de descrever as características de cada raça e explicar a sua origem e posição atual de forma exaustiva, introduzindo variáveis como o seu uso, características geográficas, quer físicas quer humanas, das regiões de origem, histórias, receitas, quando aplicável, e curiosidades, entre outras.
Só conhecendo o passado e a sua história, e procurando entender o presente podemos pensar e projetar um futuro onde damos valor ao que de bom temos – sejam eles animais, produtos, recursos ou pessoas – e, acima de tudo, criar e implementar políticas de sustentabilidade e preservação destas raças, bem como das populações, áreas geográficas e setores económicos de que delas e elas dependem, numa relação harmoniosa que perdura há várias gerações e que na maioria levada a cabo pelos criadores sem qualquer tipo de planeamento nacional ou apoios diretos para este nicho.
O que observamos nos dias de hoje é o resultado de diversas gerações de criadores …
“(…) permitindo associar a população ou raça a um preciso ecossistema, tornando inconfundível e indissociável, o fenótipo e o ecótipo ou a aptidão e geografia. Quantas destas raças foram (ou são) motoras de fenómenos de desenvolvimento local e regional, em tão diversos sectores económicos, como o têxtil, a cutelaria, os curtumes, ou mesmo, na gastronomia, no turismo ou na cultura?” (Nuno Vieira de Brito, Ex-Secretário de Estado da Alimentação e da Investigação Agroalimentar).
… e diversas gerações de evolução das espécies…
“As raças autóctones representam muitos anos de evolução das espécies o que lhes permitiu, a sua adaptação ao meio ambiente com todas as suas adversidades, persistindo ao longo dos tempos até aos nossos dias. Portugal é um importante reservatório de recursos genéticos animais.” (Maria Teresa Villa de Brito, Ex-Diretora Geral de Alimentação e Veterinária).
“Toda esta diversidade enquadra-se numa riqueza ambiental e de ecossistemas, numa perfeita paixão entre biológico (animal) e o ecológico (ambiente), vigiado por um povo que tem orgulho nas suas raízes e nos seus elementos identitários” (Assunção Cristas, Ex-Ministra da agricultura, Mar, Ambiente e Ordenamento do Território)
Resultado desta combinação e fusão de diversos fatores climáticos, económicos, sociais, geográficos e históricos, Portugal é dono de uma enorme biodiversidade no que diz respeito a recursos genéticos animais.
Atualmente, estão oficialmente reconhecidas 57 raças autóctones em Portugal divididas da seguinte forma: 15 de bovinos, 15 de ovinos, 6 de caprinos, 3 de suínos, 3 de equinos, 4 de galináceos, 1 asinina e 10 de cães.
As raças autóctones portuguesas fazem parte do património histórico e cultural do país e são parte integrante do meio rural, onde têm um papel importantíssimo no equilíbrio dos ecossistemas e na fixação das populações, bem como em diversas atividades de carácter gastronómico, social e cultural.
Na próxima crónica irei abordar a parte administrativa e legal bem como a definição de raça autóctone e a sua localização nacional de uma forma geral antes de entrar em específico em cada raça. Irei também apresentar a estrutura do trabalho e pela qual me guiarei de modo a apresentar uma organização uniforme para todas as raças
Espero assim com este trabalho valorizar e contribuir para a divulgação e preservação deste património tão nosso com um olhar diferente, de cozinheiro e aluno de geografia deste Departamento.
Texto: João Oliveira
Imagem: Raça Campaniça, João Madeira, RuralBit