As ações antrópicas têm-se demonstrado como uma das principais causas responsáveis pela fragilidade dos ecossistemas e pelo desequilíbrio planetário. Mas como? Bem, no ano de 2011, registou-se o incrível número de 7 mil milhões de habitantes em todo o mundo, o que, por si só, é um número que representa um grande perigo no que toca à garantia de estabilidade do meio ambiente e de todos os seres vivos. Acrescentando ainda o facto de que se perspetiva uma subida da população mundial até aos 8 mil milhões, em apenas dois anos. O consumo desenfreado dos recursos naturais é um inerente aliado do exacerbado crescimento demográfico mundial. Mais população pressupõe maiores necessidades; mais necessidades pressupõe maior procura; e uma maior procura requer uma oferta que a consiga suprir. A sobrevivência de todos os ecossistemas está, mais do que nunca, dependente da velocidade de consumo e da capacidade de regeneração natural dos recursos. Urge preservar o capital natural através de redes globais de áreas protegidas e assegurar o lar de milhares de espécies em perigo de extinção. As tecnologias de informação geoespacial desempenham um papel fundamental na conservação destes ‘’lares’’, mostrando-se como ferramentas efetivamente eficazes nas atividades de análise, gestão e visualização de zonas de risco, onde a vida selvagem é profundamente afetada. Mais, são essenciais na garantia da biodiversidade estabelecendo a ‘’ponte’’ entre a análise estatística e geográfica e as condições dos habitats das espécies em observação, permitindo que estas últimas possam ser compreendidas, com posterior adoção de medidas adequadas de revitalização.
Exempli gratia, nas montanhas Virunga, no centro do continente africano, a D.F.G.F.I (The Dian Fossey Gorilla Fund International) tem exercido imensos esforços no uso de tecnologias de reconhecimento espacial avançado, no sentido de apoiar o estudo e a monitorização de uma das subespécies de primatas mais afetadas, o Gorilla beringei, espécie esta que tem demonstrado, nas últimas décadas, um declínio demográfico preocupante. Os estudos e reconhecimentos do gorila são feitos através da observação de mapas históricos da espécie, imagens de satélite e de mapas-base digitais tridimensionais que são utilizados para a monitorização do movimento do animal no terreno e da atividade humana nas zonas abrangentes.
Outro exemplo é o Philippine Tarsiers Conservation Program, que se dedica à conservação de um dos primatas mais pequenos do mundo, o tarsier filipino. Atualmente, existe apenas uma pequena fração da espécie (comparando aos valores demográficos observados em 1990) e esta reside, na sua maioria, no sudeste asiático, com maior incidência na Malásia e Indonésia. O seu declínio teve origem em ações humanas como a desflorestação, a caça para venda em mercados de animais exóticos e a prática agrícola intensiva no seu habitat. Contudo, muitos têm sido os esforços de vários investigadores e organizações no sentido de monitorizar e preservar a integridade do tarsier, nomeadamente no uso de técnicas de radio-telemetria para observação do comportamento da espécie no território, como também, no uso de ArcView para uma melhor visualização e compreensão dos tipos de coberto vegetal, das características do terreno e dos padrões de uso do solo.
Em síntese, urge encarar as tecnologias de informação geoespacial, para além dos seus ‘’muitos’’ usos, como um meio indispensável nas tarefas de acompanhamento e conservação da vida animal. Numa era de sobrepopulação e de uma pegada ecológica cada vez mais dispendiosa, é determinante repensar os valores que nos trouxeram até aqui, e se os mesmos vão de encontro ao respeito pelas mais variadas formas de vida. Hoje, algumas espécies contam-se pelos dedos, e a este ritmo, no futuro, a mão fechar-se-á para todo o sempre.
Texto: Frederico Ferreirinho
Fonte imagem: Bringantia
Legenda da Imagem: Exemplar de lobo-ibérico. Espécie em declínio desde a segunda metade do século XX mas que, recentemente, tem vindo a aumentar a sua população graças aos esforços de várias associações de conservação, em Portugal e Espanha.
Referências Bibliográficas:
Animal Diversity Web (2019). Tarsius. Disponível online em: https://animaldiversity.org/accounts/Tarsius/. Consultado a 15 de abril de 2021
Esri (2007, Dezembro). Gis for Wildlife Conservation. Disponível online em: https://www.esri.com/~/media/Files/Pdfs/library/bestpractices/wildlife-conservation.pdf. Consultado a 15 de abril de 2021;
World Wide Life Fund (s.d). Mountain Gorilla – Facts. Disponível online em: https://www.worldwildlife.org/species/mountain-gorilla. Consultado a 15 de abril de 2021.