Na badalada temática das alterações climáticas, é conhecimento comum que as repercussões se estendem a vários domínios, desde o aumento da temperatura média global, à deterioração das condições necessárias à existência de vida humana. Porém, naturalmente, as consequências alongam-se muito para além daquilo que o olho humano capta ou que o seu subconsciente imagina.
Uma das espécies que tem vindo a ser mais afetada pelo incremento das temperaturas médias é o krill antártico. Relativamente desconhecido, este invertebrado é pouco maior que um clipe de papel. Euphausia superba de nome científico, a espécie habita nas águas frias do Oceano Antártico, onde desempenha um papel fundamental na cadeia de alimentar: é a principal fonte de alimento de vários animais (sobretudo baleias), que variam desde mamíferos a peixes ou até mesmo aves.
O krill antártico desloca-se em cardumes extremamente densos, com milhões de elementos (sim, milhões). Podem, inclusive, ser detetados através de imagens de satélite quando ascendem a águas mais superficiais. Alimenta-se de algas de gelo (ice-algae), fitoplâncton e dióxido de carbono. Sendo uma espécie tão apreciada pelos predadores, despendem a maioria do tempo em águas profundas, por volta dos cem metros, como forma de defesa. A deslocação para águas mais superficiais apenas se dá aquando da sua alimentação.
Ora, com o degelo dos glaciares, surge a diminuição da quantidade de algas de gelo, bem como de fitoplâncton e as águas tornam-se menos oxigenadas. Essas transformações têm originado um decréscimo substancial na população de krill antártico, que tem à sua disposição cada vez menos alimentos para o seu “cardápio”, mas nem por isso deixa de ser uma iguaria muito desejada na ementa das espécies predadoras. Apesar dos milhares de milhões ainda existentes, estima-se que a população de krill tenha decrescido em cerca de 80% desde os anos 70.
Dado que inúmeras espécies dependem do krill antártico para a sua sobrevivência, esta diminuição drástica coloca em causa muito mais do que esta população – várias espécies ficam em risco, o que poderá afetar ecossistemas locais em toda a sua dimensão.
O exemplo do krill é um importante alerta da extensão e impactos causados pela ação antrópica. A tantos milhares de quilómetros de nós, e com o tamanho que quase passaria despercebido a olho nu, o krill antártico sofre diariamente com as nossas ações. E do krill, dependem tantos outros…
Referências Bibliográficas
National Geographic. (s.d.). Krill. Obtido de National Geographic: https://www.nationalgeographic.com/animals/invertebrates/facts/krill
Texto: Alexandre Domingos
Fonte foto: Ecologia Política