Eslovénia: Should you stay or should you go?

O meu amigo Pedro Pereira refere-se à palavra “Erasmus”, como a palavra mágica para descrever a mobilidade internacional. Em 2020, o programa Erasmus + celebra 33 anos e, mais do que chegar a casa com milhares de histórias para contar, a grande parte das pessoas que nele participa(ra)m guarda, com enorme carinho, a cidade e o país que as acolhe(u), sempre com a intenção de um dia lá voltar.
O país que me recebeu era, tal como queria, frio e muito verde e com um custo de vida que não se distancia muito do praticado em Portugal. Apesar de ser mais pequena – em área – que o Alentejo, e ter apenas 47 km de costa, a Eslovénia não fica nada atrás de Portugal. E quando assim o digo, pode parecer duvidoso, mas não se deixem levar pelo tamanho de um país. Antes de escolherem um destino, seja por que motivo for, confiram o que é que ele vos oferece e o que é que a vossa curiosidade procura. A minha curiosidade levou-me à capital de um país da Europa Central, integrante da antiga Jugoslávia – separou-se em 1991.
Ljubljana é uma cidade relativamente pequena, se tivermos em conta a dimensão das grandes capitais europeias, mas tem-se afirmado como um destino muito procurado pelo turismo internacional. Foi capital verde europeia em 2016 – imediatamente antes do meu Erasmus – e é, tal como grande parte do país, um exemplo de sustentabilidade e valorização da proteção ambiental. Uma cidade com mais bicicletas do que carros, com amplos espaços públicos para usufruto e ruas bem organizadas e limpas. Um país com mais de metade do seu território coberto por florestas e por rios e lagos de águas cristalinas – que serviram de pano
de fundo para filmes como “As Crónicas de Narnia: Príncipe Caspian” (2008) ou “No Man’s Land” (2001).
A Eslovénia é o que alguns podem chamar de tudo em 1. É um dos ex libris dos Balcãs e fica a apenas 1h de carro de Zagreb, 2h de Veneza e a cerca de 4h de Viena ou Budapeste. É um dos países mais baratos dos Alpes para a prática de ski e o país mais relaxante da Europa, segundo o The Telegraph. Fazer uma visita apenas pela capital e pelo Lago Bled é, de certa forma, limitado. Aventurem-se pelo Soča valley, experimentem os vinhos de Goriška Brda, admirem uma das maiores grutas do mundo – Škocjan Caves – e deem um mergulho no Adriático. Tudo a menos de hora e meia da capital. Vão encontrar uma gastronomia, cultura e
arquitetura muito influenciadas por 3 países vizinhos: Itália, Áustria e Hungria. Tirem 8 a 10 dias para visitar o país e prometo que não se vão arrepender.
Entre Setembro de 2017 e Fevereiro de 2018, tive tempo para conhecer centenas de pessoas, visitar 10 países e duas dezenas de cidades (e uns quantos parques naturais e nacionais) e trazer memórias que nunca se vão apagar – até porque grande parte delas estão registadas em fotos. Devem estar a perguntar-se se, no meio de tanta viagem, houve tempo para estudar. Claro que sim, e tal nunca foi impedimento para aproveitar tudo da melhor maneira. Os eslovenos são, na sua grande maioria, pessoas muito prestáveis e simpáticas, pelo que os docentes tentarão melhorar a vossa experiência e ajudar-vos no que conseguirem.
Prestes a terminar o programa, tive ainda a oportunidade única de poder celebrar a conquista do europeu com a comunidade portuguesa que ali residia e com os cerca de 90 portugueses que se juntaram, durante os últimos dias do semestre, para apoiar a seleção nacional de futsal.
Foi a cereja no topo do bolo e veio demonstrar que a Union – uma das melhores cervejas eslovenas – faz a força.
Há poucas palavras que consigam descrever o que é que qualquer um de nós sente quando volta a Portugal, depois de uma experiência tão enriquecedora. Desde 1987, o programa quebrou barreiras à multiculturalidade, promoveu tolerância e diálogo entre pessoas de diferentes origens, motivou a partilha de conhecimento e criou laços e relações que se perpetuaram no tempo, mas também no espaço. Quando voltamos ao nosso país – seja ele qual for – sentimo-nos, numa primeira fase, desamparados ou no que alguns gostam de chamar de depressão pós-erasmus. É real? Talvez. Vivemos 6 meses com pessoas com quem nunca vivemos, num sítio onde nunca vivemos e, muitas das vezes, caímos de paraquedas num país em que nem conseguimos perceber a língua que lá é falada. É uma adaptação forçada numa curta janela temporal. Mas prepara-nos para um futuro que, por si só, já é cheio de incertezas e complexidades enquanto, simultaneamente, nos oferece uma das melhores experiências de vida.
A dificuldade em voltar à rotina apenas se pode explicar com uma palavra que só se pode pronunciar em bom português: Saudade.

João Pedro Barreiros